quarta-feira, 1 de abril de 2015

A vez definitiva, a que mudaria minha vida

Eu cursava o primeiro ano de Jornalismo na UEL (Universidade Estadual de Londrina, Paraná) quando eu tive a oportunidade - que eu cavei - de passar uma temporada de 1 ano na Inglaterra. 
A minha querida tia (aquela que me levou para a minha primeira viagem de avião) já havia morado em Londres nos anos 80 e tinha uma senhora, uma inglesa, de quem havia ficado amiga por anos. Essa senhora chamada Elisabeth, cujo apelido era Libby, vinha frequentemente para o Brasil visitar a minha tia. Numa dessas viagens para o Brasil, conversamos se eu poderia ficar na casa dela um tempo 
porque eu estava louca para conhecer a Europa. Eu sonhava em ir para a Inglaterra...
Eu tinha 19 anos. Era 2001 e naquela época ainda era bem mais fácil entrar no país como estudante do que é atualmente. E eu também não fazia idéia de quais eram as regras, nem mesmo a Libby sabia, já que como ela era inglesa, nunca foi de seu interesse saber como um estrangeiro iria para lá.
Ela apenas disse que eu poderia ficar na casa dela e ajudá-la em tarefas caseiras como troca pela minha estadia. Achei mais do que justo. Achei sensacional. Era minha chance de sair e ver o mundo.
Quando eu cheguei no país nada foi como eu imaginei. Ela morava no subúrbio sul de Londres, num bairro muito bonito, porém muito longe do centro. Além disso, ela passou a me tratar muito mal, bem diferente de como ela tratava minha família no Brasil quando ela estava de passagem. Ela não me deixava quase nunca sair da casa dela e o primeiro mês, me lembro bem, foi horrível. Eu chorava muito no meu quarto.
Uma vez os vizinhos dela que eram da minha idade me chamaram para ir ao cinema e ela, que queria ter o total controle sobre mim, negou. Disse que era perigoso eu sair à noite. Eu estava vendo que minha vida ia se tornar um terror se eu passasse muito tempo perto dessa mulher.
Outra vez eu disse que queria conhecer Londres, o centro, todo aquele cartão postal que a gente sonha e ela me disse que se eu quisesse saber mais sobre o país deveria ler os livros que ela tinha em casa (ela tinha a coleção da Agatha Christie).
Lembro-me de ter ido a uma feira de rua num final de semana com ela e entramos numa loja que vendia antiguidades. Ela tinha um gosto no mínimo duvidoso. Apontou para um busto de uma mulher feito de mármore e perguntou para o funcionário quanto custava. Não me recordo o valor. Somente que fiz o comentário "nossa, que caro!" e ela me respondeu "talvez para você". E saímos da loja. Ela adorava me humilhar. 
Já estava difícil eu ter deixado meu namorado que eu tanto gostava para trás para ir em busca dessa conquista em outro continente, ainda mais com uma pessoa de mau caráter fazendo questão de te reprimir e se fazer passar por melhor do que eu. 
O pior de tudo é que ela nem era uma inglesa rica. Ela vivia de pensão. Era uma senhora de uns 70 anos de idade, amarga, infeliz, com um filho de uns 45 que vivia passando lá para pedir dinheiro para ela. Ele era estranho. 
Tudo isso aconteceu num prazo de um mês. Meu primeiro mês em Londres, sem praticamente sair daquele bairro afastado de tudo. A minha grande chance de me livrar dela seria o próximo mês, que eu estava prestes a passar sozinha enquanto ela visitaria minha tia no Brasil de férias. Eu ficaria no flat da Libby só. 
Quando esse dia chegou, quando ela foi para o aeroporto e me vi sozinha, a primeira coisa que fiz foi ir para o centro da cidade e ver o que eu estava perdendo. Meu mundo se abriu. As coisas começaram a ficar imensas e maravilhosas. Mesmo com a saudade que eu tinha do que eu havia deixado para trás, eu também guardava comigo um enorme desejo de ver tudo e experimentar tudo.
Decidi ir atrás de um emprego de meio período porque eu tinha muito pouco dinheiro e queria dar um jeito de me mudar da casa da Libby antes de ela voltar. Nesse meio tempo, também liguei para minha mãe e para a minha tia dizendo as coisas horrorosas que ela havia feito comigo e que eu não aguentava mais. Eu não tinha ido para a Inglaterra para ser prisioneira de uma senhora maluca.
Nisso a minha tia deu um toque nela no Brasil e comentou a minha infelicidade. Eu havia arranjado um emprego num café no centro de Londres e era uma questão de semanas para eu juntar minhas coisas.
A melhor parte veio quando eu recebi meu dinheiro e fui atrás de uma nova casa. Descobri que alugavam quartos em repúblicas de estrangeiros e fiz a minha mudança de ônibus. Eu só tinha uma mala mesmo. Além disso, eu não precisei encontrá-la mais. Acho que deixei a chave da casa dela com a vizinha, antes de ela regressar. Na verdade não me lembro bem com quem a deixei. Mas isso faz sentido, já que eram próximas.
Depois disso, eu realmente havia me mudado para Londres. Eu era uma menina de 19 anos que iria passar 1 ano por lá e voltar para a faculdade no Brasil. 
Isso nunca aconteceu. Eu fiquei 3 anos e muitas coisas aconteceram. Muitas. Boas e ruins. E viajei o mundo, numa época em que brasileiro queria ir para fora para juntar dinheiro e fazer um pé de meia.
Depois de ter ido para tantos outros países e outros continentes, eu tinha mudado para sempre.




A segunda vez

Quando eu fiz 15 anos, uma das minhas melhores amigas do colégio havia se mudado de volta para Belém do Pará (ela era originalmente de lá). Poucos meses depois, minha mãe iria assinar a minha autorização para pegar pela primeira vez um vôo sozinha, já que eu era menor de idade. Passei incríveis 15 dias em Belém e pude conhecer Salinas, uma praia do Norte que é inesquecível!

A primeira vez a gente lembra

Quando eu tinha 12 anos de idade, pela primeira vez viajei de avião com uma tia querida e uma prima para Porto Seguro, Bahia. Naquela época, ir para essa cidade era ainda algo não muito popular. Isso foi em 1994. Foi aí que eu descobri que não pararia mais de viajar. Eu havia nascido para  isso.